Harold também entrara na despensa, desviando das pilhas de papel-toalha e das garrafas de detergente, abaixando até o chão e colocando delicadamente a cabeça de Jude no colo, e, por um segundo, ele pensara que aquele era o momento pelo qual sempre esperara de certa forma, no qual Harold abriria o zíper das calças e ele teria de fazer o que sempre fez. Mas Harold não fizera isso, apenas acariciara sua cabeça, e, depois de um tempo, enquanto se retorcia e grunhia, com o corpo se retesando de dor e o calor tomando suas articulações, percebera que Harold estava cantando para ele. Era uma canção que nunca ouvira antes, mas que instintivamente reconhecera como uma canção infantil, uma canção de ninar, e trepidara, batera a mandíbula e chiara por entre os dentes, abrindo e fechando a mão esquerda, agarrando o gargalo de uma garrafa de azeite de oliva que estava por perto com a direita, enquanto Harold continuava cantando. Deitado ali, tão desesperadamente humilhado, sabia que, depois daquele incidente, Harold se afastaria dele ou então se aproximaria ainda mais. E, como não sabia o que iria acontecer, teve esperança – como nunca tivera antes e nunca voltaria a ter – de que aquele episódio nunca terminasse, que a canção de Harold nunca acabasse, que nunca precisasse saber o que viria a seguir.