Muito antes do homem, há o mistério. Em meio à imensidão das florestas, existe algo que vai além dos rios, igapós e das barrancas de terras caídas. Uma chave que brilha em verde-esmeralda e que guarda a entrada da origem de tudo: da copa intransponível das árvores, que quase não permite que o solo úmido veja a luz do Sol, a todo ser vivente que caminha furtivamente pelos meandros dos segredos. Há quem adentre a selva sem pedir permissão e nunca mais retorne. Há quem desista de encará-la quando os ventos trazem o canto invisível do Uirapuru, os passos do Mapinguari ouvidos de muito longe ou mesmo as vozes sem face que sussurram sem dizer uma palavra. E há quem nada saiba sobre ela. Lançado em 2015, “Quando a selva sussurra” é uma coletânea de contos baseados em lendas amazônicas. Revisitadas, relidas e reinterpretadas por autores que, como “mateiros” — os homens nativos da região que conhecem como ninguém todas as sinalizações ocultas da floresta –, vão conduzir o leitor à face do inexplorado, ao alcance do mitológico, às estradas perdidas do Eldorado literário onde todas as verdades se apresentam como lendas ainda hoje contadas pela oralidade dos antigos. Histórias que não se perdem quando passadas adiante. E que vão continuar. Porque o mistério permanecerá depois do homem.