Herança quilombola maranhense: história e estórias nasceu como trabalho de doutorado da professora Joseane Maia, incansável educadora e pesquisadora, que sempre atenta às manifestações da cultura popular de sua terra — Caxias (MA) — percebeu nas narrativas orais das comunidades quilombolas do Maranhão estudo importante para análise do sentido estético, «numa visão integradora, distinguindo aspectos éticos, sociais e ideológicos». Quatro povoados foram selecionados para pesquisa: Olho D Água do Raposo, Jenipapo, Cana Brava das Moças e Mandacaru dos Pretos. A pesquisa de campo consistiu de visitas às comunidades, para levantamento dos narradores, seguidas da recolha das estórias, realizada através de conversas informais, em momentos de descanso. A autora estudou as comunidades a partir do conceito de “quilombola”, numa relação com as categorias “identidade” e «memória”, que dá sustentação à luta pelo direito à terra, bem como suas práticas culturais, incluindo o contar estórias. Recolhidas as narrativas, estas foram comparadas com as narrativas escritas publicadas no mercado editorial brasileiro, de modo que tal comparatismo possibilitou análises de diferentes modalidades de criação literária, cuja importância, em ambas, se constitui na veiculação de visões de mundo que se traduzem na linguagem simbólica. «E através dessa linguagem revelam-se verdades, crenças, quimeras, vontades, que permitem a compreensão do outro, que aproximam o ser humano do outro, isto é, propiciam o conhecimento da realidade objetiva e subjetiva e da cultura que compõe o patrimônio de um país.” Sem relegar a força estética e ficcional da linguagem literária, Joseane defende que nenhuma obra está desvinculada do contexto, e que se a realidade vivida influencia no processo de criação e recriação da Arte, a experiência vivida pela autora ainda deixou uma indagação: «que tipo de húmus poderia irmanar homens e mulheres (as pessoas) nas comunidades urbanas?”.